“Cuidar de Idosos com Dependência Física e Mental”
Prefácio
A publicação de um novo livro na área das pessoas idosas constitui uma oportunidade de reflectirmos sobre a qualidade dos cuidados dedicados a este grupo etário em Portugal.
Sabemos que aproximadamente um quinto da nossa população tem mais de 65 anos de idade. Prevê-se que nos próximos anos este grupo populacional cresça de uma forma exponencial o que obriga a uma reflexão e a adopção de novos paradigmas da avaliação, intervenção e melhoria nos cuidados assistenciais.
Ao longo da última década estabeleceram-se regras para uma melhoria das condições arquitectónicas e logísticas dos “lares”. Assistiu-se ao encerramento de algumas dezenas de instalações por não reunirem as condições mínimas de segurança, salubridade e de outras condições físicas.
Complementarmente assistiu-se a publicação de legislação para promover instituições de cuidados continuados (recentemente dirigidos para os doentes mentais), curiosamente, ou talvez não, os cidadãos com quadros demenciais encontram-se órfãos de uma protecção, dada a omissão da referência destes doentes/cidadãos como possíveis usufrutuários destes serviços.
Contrariamente à legislação vigente em diversos países, acontece que em Portugal não existe qualquer referência relativa aos profissionais e respectivos ratios (p.e. médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, entre outros) que qualquer destas instituições (p.e. lares e cuidados continuados) deveriam possuir para que se desenvolvesse um serviço de qualidade. Nem tão pouco é exigível que possuam um registo da informação clínica e de cuidados, muito menos qualquer diferenciação formativa dirigida ao cuidar das pessoas idosas, como se tratar um jovem e uma pessoa mais velha fosse a mesma coisa!!!
Com isto não queremos referir que todas as instituições tem um padrão de baixa qualidade, já que existem vários exemplos de Norte a Sul onde assistimos a entrega, dedicação, carinho dos profissionais que aí trabalham para os idosos que lá se encontram, mas num país que quer estar no padrão da frente temos de exigir mais.
As escolas superiores e universidades tem procurado formar técnicos que deêm resposta aos novos desafios da sociedade. Licenciaturas, mestrados e doutoramentos em geriatria, psicogeriatria, psicogerontologia, enfermagem geriátrica... tem vindo a proliferar. Contudo, estes profissionais não encontram lugar para desenvolver as suas competências!!!
O conhecimento das especificidades da população, a necessidade do conhecimento do doente no seu todo, sem o reducionismo do diagnóstico e intervenção terapêutica estão presentes nesta obra.
Ao longo do texto somos conduzidos da preocupação de se proceder a uma avaliação global que se tem de estabelecer no que concerne a autonomia, necessidade de suporte e relação com o cuidador. Mais ainda, o impacto da doença no cuidador, formas de lidar e as dificuldades sentidas.
Sem se deter o autor procura estabelecer um programa de estratégias de intervenção para o cuidador e para o doente portador de demência e, em particular, para o doente dependente.
Por todas estas situações, o presente livro constitui mais um marco de referência bibliográfica no que tem vindo a ser publicado em Portugal.
O seu autor tem-nos habituado a uma reflexão sobre os cuidados que são prestados à população idosa. Com ele já nos cruzamos em conferências, mesas redondas, congressos... Encontramos sinergias, e tecemos ideias comuns para melhorar e divulgar os conhecimentos.
Sobretudo, encontrei inquietude no reconhecimento da necessidade de avançar - reflectindo, reflectindo - estudando, estudando - investigando e agora publicando o fruto do trabalho desenvolvido.
Pelo que o conheço sei que certamente esta publicação é uma “pausa” para continuar a abrir novos caminhos do conhecimento da nossa realidade, ao mesmo tempo que nós traz a clarividência de quem não se esconde atrás da docência, mas procura com ela o desenvolvimento de melhores cuidados.
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